Clique nas imagens para melhor visualização! |
|
“Mãezinha, terá que ser cesárea, esse bebê, não vai nascer normal!”. Dr Geoconda Lembrei…
Quando chegou o dia das contrações fomos ao hospital, mas a doutora estava de férias e os médicos em questão começaram a empurrar, dizendo que não estava na hora, volta pra casa, blablablablá. Todo mundo já conhece essa novela.
…se fomos pra capital. Mesma coisa… ficamos girando em volta do hospital. “Tem que caminhar mãezinha, caminhar!”
Ai vem aquela atitude, chutar a porta.” Meu Deus, ai começa a tortura!” Ninguém sabe nada, ninguém fala nada e ela lá dentro sofrendo sozinha.
Parto induzido, parto induzido, parto induzido… não deu! É claro que não iria dar, a médica já tinha falado…
Cesárea as pressas, nasceu todo roxinho e deformado por causa das correria. Só me mostraram ligeirinho na porta e saíram correndo. Meu Deus está tudo aqui gravado e vez ou outra sai pra fora em forma de lágrimas.
Já em casa, depois de alguns meses, parecia tudo normal, exame do pezinho, tudo ok. A gente estranhava que ele era muito paradinho, mas…primeiro filho e tal, pouca experiência e as pessoas talvez até notem, mas sem intenção de não magoar a gente, não falavam nada.
Minha mãe entrou porta adentro e pegou ele já virando os olhinhos, roxo e sem respirar e assoprou o fôlego de vida de volta em sua boquinha e ele resurgiu, para honra e glória do senhor Jesus.
Daí foi aquela correria até o hospital. “A intenção era ir até o hospital da capital, mas não iria dar tempo, Deus disse:” Não entra nesse aqui mesmo!”.
Todo hospital parou para quando nosso Guerreiro chegou. Foram mais cinco paradas respiratórias dentro da emergência. Ninguém sabe como ele sobreviveu, mas nós sabemos…
Assim que ele deu aquela estabilizada os médicos falaram :” Ele não pode ficar aqui, não temos a menor condição de sustentar ele com um problema tão grave!”. Ele teve uma broqueolite muito forte e precisava de muitos aparelhos até ficar bom.
Achando que dependia de mim buscar uma vaga em outro hospital, saí desesperado pelos melhores hospitais da cidade sem sucesso, pois quem faz tudo isso é o próprio hospital em questão. Mas o que Deus queria era falar comigo durante o percurso ou melhor, ouvir o meu clamor.
Chorei desesperado dizendo:” Senhor, não leva meu filho,não leva, não leva!” era só o que falava. A carona, tia gringa, falava:” Te acalma Luciano, vai dar tudo certo!”
Mas mesmo entendo e clamando de maneira errada, Deus, magnífico, me entendeu e não permitiu que a vida do meu guerreiro ceifada
Deus conseguiu a vaga em outro hospital e eu saí desesperado atrás da ambulância no percurso. E até hoje, como sou motorista de ônibus, quando vejo uma com a sirene ligada,ainda me abalo.
Nosso guerreiro surpreendeu os médicos e saiu em tempo recorde da UTI, foi então que toda a luta começou, isso tudo foi café pequeno diante do que estava por vir. A luta pela vida dessa criança foi tão intensa que a sua deficiência nunca foi problema para nós…
Foi numa dessas idas ao hospital que encaminharam ele para a genética e mesmo sem saber nos dizer o que ele tinha, nos encaminharam para as fisioterapia. Bastante tempo depois, apenas nos disseram que ele não tinha o corpo caloso.
Não falaram o nome da síndrome, embora nos deram um SID para encaminhar os documentos.( Essa parte está bem resumida, foram anos.)
Mas ai começaram as infecções urinárias, algumas tratávamos em casa e outras internado no hospital. Até que descobriram que ele formava cálculos renais, por que tinha o rim grudado no outro em forma de ferradura.
Foram cinco cirurgias para extrair as pedras até que a médica percebendo já a nossa exaustão resolveu extrair o rim mal formado.
A primeira cirurgia que eu lembro, foram nove horas, nove. Olhando para aquele monitor sem saber o que estava acontecendo. O monitor só marca as três etapas, em preparação, em ação e em recuperação.
Sabem o que é passar caminhando de um lado para o outro durante nove horas?
De tanto ver a nossa agonia as pessoas acabaram se envolvendo na nossa história e quando a Michele desabou em prantos, por exaustão, que eles viram no monitor que a cirurgia havia acabado, saíram correndo ao seu encontro: “Acabou mãezinha, acabou…!”. Ta tudo aqui guardado, como se fosse hoje.
Depois tudo mais calmo pedi pra Michele ir para casa descansar e eu fiquei com ele entubado, a madrugada toda.
Quando desentubaram, que os sedativos pararam de agir e ele recobrou a consciência, mesmo com a garganta ferida e com a voz trêmula e rouca, me pegou com sua mão forte e me puxou o ouvido até a sua boca e disse bem baixinho:”Papai….!”. Meu Deus, meu Deus, tira isso daqui de dentro senhor…
A ultima cirurgia foi a do corte na frente. Era de alto risco, pois poderia perder o rim saudável, mas graças a Deus deu tudo certo (imagina ele ter que fazer hemodiálise)
Depois que tiraram o rim mal formado começamos a viver novamente, nunca mais de infecção, nunca mais precisou baixar, tem uma vida normal hoje.
Tem tantas histórias que eu até me perco na cronologia dos fatos. Exames doloridos para nada, cintilografias (Quem já fez sabe), choques nas pernas pra testar a motricidade. Ele se estremecia todo e olhava pra nós, como que pensando que fosse algum castigo por ter feito algo de errado e pedia socorro. Quem estava na sala de espera chorava junto, pois até os enfermeiros choravam.
E agora recentemente uma de suas cicatrizes, a menor inflamou. Usamos tudo que é tipo de pomada e nada.
O último médico nos encaminhou para um cirurgião dizendo que era algo de dentro para fora e que era só abrir a cicatriz colocar um dreno e tudo bem, não precisava nem baixar no hospital.
Quando eu vi aquele médico com uns trocentos anos vindo em direção a nós com os passos bem miudinhos, já fiquei todo arrepiado:”Meus Deus…!”.
Ele fez um pequeno corte, sem anestesia e enfiou toda ponta da tesoura cirúrgica para dentro dele (olhei tudo).
A Michele não aguentou, saiu da sala. Eu me ataquei dos nervos, minha respiração ficou bem curtinha e ofegante, quase desmaiei.
Dava pra ver que o médico estava inseguro, os próprios enfermeiros me olhavam querendo dizer:”Tira ele daqui!” . Graças a Deus o médico desistiu, colocou um dreno e nos encaminhou para o hospital, pois havia um corpo estranho lá dentro que ele não conseguia remover.
Ainda voltamos lá mais umas cinco vezes para fazer curativo até a remoção do dreno e nesse meio tempo ele milagrosamente expeliu um dos pontos internos que o corpo rejeitou e nós nunca mais fomos no hospital para ver, pois cicatrizou novamente e nunca mais deu problema.
Hoje o gordo está com 12 anos. A última vitória foi contra a coqueluche, bastante correria também, mas vencemos.
Como toda criança especial, é amado por todos e por onde passa faz amigos. Vimos muitas história dentro dos hospitais, muitos não tiveram a mesma sorte que a gente e muitos a ainda moram lá dentro.
Embora tivéssemos muitas vitórias, todas essas lutas atrasaram o desenvolvimento motor dele e hoje o Erick, embora não tenha nenhuma deficiência física, não vê necessidade em caminhar.
Embora acho que todo pai não deve impor limites no desenvolvimento do seu filho, sou contra inclusão social.
Acho toda instituição especializada, particular ou do estado, deveria ter um espaço dentro de uma escola normal. Então seria muito mais fácil de fazer uma integração.
Mas isso é um assunto para debate…
Hoje somos uma família muito unida, embora humildes. O orçamento apertado nunca nos impediu de sermos felizes, pois a saúde é nosso bem mais precioso.
E o gordo é o pivô dessas nossa felicidade, se ele está bem, nós também estamos. A vida gira em torno de uma criança especial, não tem como não ser dessa forma, enquanto vivermos teremos encaixar nossos projetos e ações dentro da agenda deles.
E tudo isso será muito mais fácil quando entregarmos essa agenda aos cuidados de Deus e ele mesmo vai abrindo as portas, revitalizando as nossas energias e nos dando descanso.
Por que vai ter dias que inevitavelmente estaremos muito cansados e acreditem, já vi muitas crianças especiais nos hospitais que os pais desistiram…..
Que Deus esteja sempre presente na vida de cada um, dando forças e refrigério. Em Cristo Jesus e respeitando a fé de cada um, somos mais que vencedores. Abraço!